segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Tempo ao tempo

Ela nunca desejara tanto ser plenamente ignorante. Tapadinha, mesmo. Ele lhe dizia: ---Calma! Nos conhecemos há pouco...dê tempo ao tempo.
Nesses momentos, olhava para a íris dos olhos dele. Não eram os olhos que enxergava. Era o futuro. Um futuro que não valia a pena prever...
Amou-o muito antes de conhecê-lo. O que ele não sabia é que era um personagem. Ela desejara cada reentrância de seu corpo imperfeito, os tons de sua pele, sabia as frases que diria, como se vestiria, conhecia os passos de seu caminho.
Uma situação em especial deu-lhe a certeza do que pressentia. Entrava na casa de Marcel pela primeira vez. Era domingo. Mas não era mais um domingo de todos os domingos. Porque em todos os domingos ela tinha a estranha sensação de que alguém estava fazendo, pensando e dizendo coisas que pertenciam à sua vida. Era como se faltasse um ingrediente mítico. E estava grande demais para acreditar em contos de fada e histórias da carochinha.
Mas tão logo Joana pisou no quarto, Marcel mostrou-lhe uns vídeos que pesquisara na internet. Naquele momento, ela teria de se pronunciar de fato sobre uma de suas conversas imaginárias. Opinaria sobre as músicas que não encontrava porque precisariam ser compartilhadas.
Antes mesmo do cair da tarde, vieram as discussões. Uma seguida da outra. Marcel acreditava piamente tratar-se de caprichos, provavelmente contornáveis.
Ela desejou mais que nunca a ignorância. Não precisava conhecê-lo a fundo. Nem outro dia sequer. Ele era um personagem meticulosamente criado. Impossível dizer-lhe que ela já podia sentir a flechada em seu calcanhar...A flecha estaria embebida no único elemento que lhe escapara em seu Adão. Uma minúscula dose mortal da realidade que o trouxera à vida.

Um comentário:

  1. Às vezes eu fico com medo de opinar sobre teus textos, por que identifico neles um fluxo tão grande de inconsciente, que parece que você escreve tentando se livrar de certos fantamas, imagens ou sensação que as pessaos e os acontecimentos te causam. Eu me sinto caindo dentro de uma armadilha psicológica, em que tudo caminha do ser para o não ser...
    Marcel e Joana são contemporaneos nossos e estão perdidos buscando o que nunca vão encontrar no outro se não encontrarem em si mesmos... amar demanda muito mais vontade que cenas romanticas em camera lenta, frio na barriga, e qualquer sintoma de paixonite... isso é a realidade.

    Sobre a quebradeira... rsrs
    Além dos 'comes e bebes', provei um recurso escuso para ficar animada... esse negócio me deixou ligada 24h, dando pic pra sair fechando barzinho e boate, indo parar na padaria perto da minha casa, com uma puta larica, aguçando meus sentidos: olfato e visão e eu achava que o farol do carro do meu amigo eram uns olhos grandes e vermelhos olhando pra mim e sentia o cheiro do sabonete do tiozinho que estava sentando na mesa do lado tomando café e lendo jornal.kkkk A comemoração se estendeu pelo outro dia, até que sábado, às 23h eu apaguei acabada... rsrs
    Me diverti muito.

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