terça-feira, 4 de agosto de 2009

A ficção só tem graça na ficção.

Estou a procura de um leitor ou telespectador...de público. Não, não sou narcisista, nem sonho com a fama. Descobri na verdade que sou um personagem de ficção. Sem uma plateia que acredite em mim. Daí você me pergunta: E não somos todos? Humm...sei não.

Provavelmente você assiste ou já assistiu a algum seriado de televisão norte-americano. E riu, chorou, foi seduzido ou sentiu ódio mortal de mim. Eu sou aquele que não se encaixa, que subverte as convenções, que perde o amigo mas não perde a piada, capaz de matar, roubar, de vender o próprio corpo, simplesmente por desconfiar de manuais de instrução, de etiqueta. Acredito no bom e velho método de tentativa e erro.

Então, me reconhece agora? Nós apimentamos as histórias, as recheamos, não somos os mocinhos enamorados ou os vilões sociopatas. Somos os maliciosos, eternamente insatisfeitos, alternando estados de espírito mil. Jogamos com as possibilidades.

Mas não existimos na vida cotidiana. Somos uma ficção. Somos uma ficção tão perfeita que as pessoas chegam a acreditar que nos conhecem, que já nos viram ou que conviveram conosco. Só que no mundo real, onde o relógio é inclemente e todos tem seu papel, somos sussurros, calafrios, tentações furtivas e etéreas, nunca materializadas, encarnadas.

Arrebatamos apenas na existência imaginada. Do lado de cá, perdemos todo nosso encanto. A dinâmica da vida nos transforma em mero incômodo.

Suspeito que Oscar Wilde e outros como ele tenham sido roteiristas de auto-biografias inventadas. Seus epítetos jamais foram pronunciados em situações reais. Porque um mundo que acolhesse tamanhas provocações ruiria em pleno caos numa sucessão de poucos diálogos.

E assim eu vago....buscando provavelmente meu autor. Ou tentando encontrar a passagem que me reconcilie com o universo dos seres imaginados.