sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Das vantagens de ser louco

Andava à noite pelo mesmo caminho escuro onde já fôra assaltado. O corpo cansado e a cabeça latejando de problemas.
Justo na curva onde não há sinal, depara-se com um louco maltrapilho a falar, parados em meio aos carros, sem ter para onde fugir.
O louco vira-se em sua direção e dirige-lhe a plenos pulmões seus impropérios incompreensíveis.
A distância entre ambos não era tanta.
Devia correr? A prudência indicava-lhe o caminho do medo.
Poderia simplesmente fingir ignorá-lo e esperar de canto de olho o que viesse a suceder.
Aconteceu que deixou escorrer dos lábios um sorriso macabro e olhou para além do fundo dos olhos do louco.

"Se me roubar a paciência e me tirar do sério, quem tem que ter medo de surto é ele!"

Eu não sei ser sentado

Queria escrever... mas estas sólidas paredes brancas me encardem o pensamento.
Queria ler ... mas ao longo do ínfimo percurso entre o quarto e a sala, minha atenção se perde.
quem sabe ouvir música? Pena que qualquer expressão de sentimento no casulo me adormece.

Vou tentar varrer o chão...mas a poeira me entranhou a carne e fincou meus pés no vão.
E se olhasse
as pessoas na janela de janelas infinitas?
Hoje não.
Eu espio, espio, mas ninguém vai me alcançar.

Preciso me esticar... e se não mais couber aqui?
A respiração rareia... é o ar parado que não quer mais entrar.

Então escancaro as portas e saio.
Eu não sei ser sentado.

E sentado neste trem
escrevo, leio, ouço, balanço e respiro.
A caminho de onde não sei.