sexta-feira, 8 de maio de 2009

Os Movimentos

Deve ser falta de senso de direção. O meu é péssimo. Você pode fazer um mesmo percurso comigo 500 vezes seguidas que vou te seguir despreocupado, sem a menor ideia de onde estou.

Porque em matéria de libertação, para alguém que foi educado anos a fio num colégio interno de freiras em plena década de 1980, Henry Miller e Anais Nin podiam ser meus confidentes na idade adulta. Mas o gosto de se deixar dominar pelos sentidos ou pela libido hoje em dia é meio insosso. Toda experiência é instantâneamente nomeada ou debatida à exaustão. Virgens e curiosos negociam e pactuam contratualmente o mais banal dos atos. E o pudor é uma mera formalidade.

Local - Desviantes Sexuais Anônimos:
--- Há exatos 5 dias me tornei adepto da RIPAROFILIA. Para ser mais claro, tenho atração sexual por pessoas sujas ou de condição sócio-econômica deplorável. Meu problema é que - das duas, uma: ou os mendigos se apaixonam e teimam em se assear para me agradar ou têm vergonha de que me deleite em suas imundícies.

Encontro:
--- Pode me chamar de x, mas não me dirija a palavra a não ser que seja extremamente essencial. Não beijo na boca, não gosto de pelos. Se sentir a necessidade de linguar meu ânus, não faço objeções. Tenho cócegas no ventre. Gosto de morder até sangrar. Tenho aversão a meias. Algumas posições me dão cãimbras e requerem alongamento prévio. Não vou demorar mais que 45 minutos, meus filhos saem logo da creche. Prefiro que ejaculem no centro da minha coxa esquerda.

Festa de família:
---Sou um novo homem. Larguei o álcool. Estava perdendo o controle. Agora só tomo 1/4 de ácido, no máximo quizenalmente.

Mas não vá pensar que se trata de desabafo saudosista. Assumo tranquilamente que prefiro as últimas versões remixadas de vários clássicos embotados. Adoro a pop-arte.

Cheguei a desconfiar que fosse falta de atitude, então. Entre a artista performática que come animais vivos de ponta-cabeça enquanto assovia uma cantiga de ninar com a vulva e o filósofo antropofóbico, eu me deslocaria habilmente no meio-termo.

O tiro fatal seria a falta de criatividade. Mas por mais que eu não seja propriamente nenhum babaca purista, neguinho se inspira sem dó nem piedade em obras pra lá de digeridas e regurgitadas. Nota-se mesmo o contrário; artistas consagrados que emprestam seu aval para sair chupando o frescor da juventude em mutação.

Não. Os medíocres e previsíveis me incomodam. Bem como a epidemia de panelinhas de auto-proclamados.

Se não estou em busca de uma cara-metade, hei de confiar cegamente na existência de pessoas complementares.
A que movimento pertencerei eu, afinal?

Um comentário:

  1. KKKK.

    pertence aos movimento dos sem-o-que-fazer, como eu. tipo assim, não tem o que fazer, vai beber, pensar, comer, fazer besteira! ou, simplesmente, vai blogar pra matar o tempo livre.

    olha, vou recomendar esse texto a um conhecido meu, que também é blogueiro. com certeza ele vai adorar ler isto.

    ResponderExcluir