terça-feira, 1 de setembro de 2009

Deitado no divã

A psicanalista me lança seu olhar de interesse complacente.
Descobri a psicanálise na faculdade e apesar do imediato fascínio, nunca consegui me afastar da ideia de que a artificialidade desses encontros se fundava em duas bases: na falta de autocrítica de certas pessoas conjugada a uma carência afetiva latente. Numa comédia romântica, ouvi uma piada que traduzia perfeitamente o que eu pensava.

---Contou isso para seu analista?
---Claro que não! É muito pessoal....

Descubro um mapa-mundi pendurado. Quando criança, acreditava jamais ser capaz de andar na rua sozinho. Sentava no ônibus tentando memorizar percursos familiares, mas voltava pra casa derrotado. Este era um de meus maiores temores. Um dia a porta do meu cativeiro seria deixada entreaberta e eu não saberia como partir.

Olho para o movimento dos ponteiros no grande relógio analógico na parede. Demorei tanto tempo para compreender seu trabalho e em breve as crianças o apontarão nos museus como um exótico artefato pré-histórico.

Faço um exame de consciência. O que vim fazer aqui mesmo?

Sim, há problemas pesados demais para se carregar sozinho. Outros parecem inofensivos. Escorrem lentamente por entre as frestas de nossos poros e corroem em silêncio todo nosso interior, como os cupins-de-solo que devoraram meu armário embutido.

À mente surge a imagem de alguns de meus sóbrios amigos. Todos analisados. Os graus de compromentimento com a existência são muitos. Mariana faz análise para a morte da avó, acupuntura para o fumo, cólicas menstruais e ansiedade e yôga para sentir-se menos sedentária. Fábio recorre à análise porque tem raiva de ser pobre e se tivesse mais dinheiro, experimentaria todo esse universo supérfluo-pequeno-burguês que abomina. Juliana se analisa e uma vez por ano pede seu mapa astral completo e gravado em fita como presente de aniversário, toma anfetaminas, às vezes uns ansiolíticos, reveza uns 4 tipos de remédios para dormir, faz pilates, dança contemporânea e recentemente descobriu uma mãe-de-santo ótima em Vaz Lobo.

Eu adoto órfãos. Tenho uma coleção deles. Vão de crianças a velhos senis. Umas gracinhas.

3 comentários:

  1. eu tô f*dida e mal-paga.
    fugi dos meus 2 analistas.
    dizia que ia pro psicólogo, e toda vida desviava o caminho.
    tinha um bar, cara, que era um dos meus favoritos. ficava há 1 quadra do consultório de 1 deles. na época, pagava 80 conto por sessão.
    aaahhh... 80 conto eu gasto com muito Mojito e SexOnTheBeach.



    p.s.: seu comentário lá no Dixt:: foi de lascar, hein... se as coisas já não eram fáceis, depois de ler teu comentário eu fiquei mais triste ainda. p*rra, cara... não precisava ser tão 'assim', eu tenho consciência sobre a minha infelicidade nos relacionamentos, não precisava ser tão duro no comentário. você acha que eu procuro isso, de sempre estar com alguém que vai pra longe? se fosse algo que eu pudesse prever, certamente não sofreria tanto. eu não sou tão burra assim.

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  2. Eu achei que você tinha abandonado o blog... Já tinha desistido de vir aqui. rsrs

    Menino, quendo você citou lá no seu comentário a lista de coisas que eu faço, é que me dei conta de todas elas... rsrs
    Tudo o que produzi durante esses 8 meses, resolveu aparecer agora em agosto, fazer o que?

    No entanto, eu sou realmente esse plural de coisas. Elas são tanto minha virtude, como minha perdição.
    Sou formada em Letras, trabalho no Adm da Petrobras a 5 anos, pq tentei viver de arte e arte não dá dinheiro. Quando entrei na faculdade odiava pedir dinheiro ao meu pai para o que quer que fosse. Amargo muitas perdas por ter escolhido trabalhar a só estudar, cantar e fazer essas coisas artísticas. Esse ano eu to saindo da Petrobras (todo mundo me acha doida por isso) e vou investir no mestrado e no que ficou pelo caminho. Estudei canto anos a fio, não me considero uma cantora brilhante, mas tenho um certo conhecimento técnico nessa área, isso me faz participar de festivais e chegar às finais. Tenho muitos amigos ligados a música, ao teatro e esse mundo todo, quando aparecem oportunidades de produzir eu vou lá e faço, a peça desse fds foi a primeira na direção músical e foi maravilhosa, espero que não seja a última. Escrevo para canalisar minhas frustrações, por ser tantas em um corpo e um espaço de tempo tão limitado.
    Tenho um amigo em formação para a psicanálise, o carro dele, à caminho das baladas é o meu divã, por isso nunca fui a analista nenhum.
    Estou tentando escrever o meu projeto de mestrado em Semiótica, mas ele mesmo é um misterio para mim. Ele fala sobre Poesia Virtual, da ruptura completa com a palavra na produção poética contemporanea, do uso de novas mídias, para realizar o que a palavra em si não consegue, enfim... To apanhando pq não estou tendo tempo pra ler...
    Nossa... faltou alguma coisa? rsrs
    Acho que não!

    Sobre o que você escreveu: eu ri, por que adoro a esquizofrenia dos seus textos. Me realizo lendo! Você diz coisas que eu não disse, mas que gostaria de ter dito.
    Meu amigos fazem analise por um monte de razões, eu tb tenho um monte delas e não faço. Eu simplesmente escrevo.

    Abração, Herdeiro! Vê se não some... afff!

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  3. e quem disse que eu sonho com a felicidade no amor? eu sonho com riqueza, poder, luxo e ostentação. haha. eu sonho poder fazer por toda a vida o que eu faço hoje. ter saúde para trabalhar 55 horas por semana e poder ir ao bar toda segunda, quarta e quinta, e ter fôlego para baladear na sexta. eu torço e faço por onde os relacionamentos dêem certo, mas não sou tão Cinderela assim. haha. não leve meus posts tão a sério... eu adoro quando alguém cai neles assim. cresci o suficiente para saber que as pessoas não tem coração. cresci o suficiente para saber que amor é a maior mentira que as pessoas contam. muito prazer, meu nome é Sandra C., 20% coração, 20% álcool e 60% razão.

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