quarta-feira, 22 de abril de 2009

A dura vida de um pobre herdeiro

Completei três décadas no início deste ano e NUNCA trabalhei de verdade. Claro que já tive experiências nesse campo, mas nada suficientemente duradouro ou substancial a ponto de garantir meu sustento por qualquer período que fosse. Também nunca fui milionário. Mas como o conceito de riqueza pode ser bastante elástico, vamos a um breve panorama:

1-Não tenho carro e quando estou sóbrio e me vejo obrigado a abrir mão do maravilhoso sistema de trasporte coletivo carioca, acompanho o táximetro atentamente, não por apego ao dinheiro.
2- Não pago aluguel, moro na zona sul, num adorável Apertamento que, reformado, transformou-se num espaço híbrido bastante peculiar. Se conseguir, imagine um misto de sótão/conjugado/quarto-e-sala.
3- Não tenho empregada. Um dos motivos é que a imensidão do meu cafofo me contransge. E, quando morava de aluguel, sentia-me compelido a limpar alguma coisa antes da empregada chegar no afã de dar alguma impressão mínima de higiene pessoal.
4- Nunca tive qualquer aptidão para a cozinha. Resultado: cerca de 90% da minha renda desce pela descarga.

Basicamente é isto. Se um ladrão entrasse aqui em casa, ele daria uma olhada rápida e diria: -Opa, foi mal, ae. Errei de endereço.

Em compensação, se não tenho celulares ou palms de última geração e não frequento academias cinco estrelas, gasto pequenas fortunas em bebida quando saio pela noite.

O que meu extrato bancário tem de limitado, tenho extra em tempo livre, justamente pela ausência da necessidade de trabalhar para garantir meu sustento e alguns pequenos luxos.

Mas está muito enganado quem pensa que é fácil o cotidiano do desocupado. Primeiro porque grande parte das decisões e atividades em que a maioria das pessoas se engaja mecanicamente perdem o sentido. A não ser que você tenha um talento extraordinário para algo e, principalmente, tenha plena consciência dele - o que não é exatamente o meu caso - é preciso encontrar um incentivo adicional para inventar qualquer ofício.

Claro que trabalho e lazer podem ser sinônimos. Mas raramente o trabalho bate à porta de alguém e, se você não tem uma vocação inata para o voluntariado em geral, voltamos à condição anterior, já que nem toda forma de lazer pode ou deve constituir-se em trabalho. Um gênio da computação pode acidentalmente criar um programa que o insira no mercado de trabalho, mas nem todo usuário de computador vai perseguir este fim.

Enquanto busco respostas para dilemas dessa natureza, gasto parte do meu tempo nadando e tentando me convencer de que o ingresso no doutorado em antropologia (visual), se não responde plenamente aos meus anseios, ao menos preenche a recorrente lacuna: O que você faz da vida?

Se você não fosse obrigado a fazer algo para ganhar dinheiro e tivesse todo o tempo do mundo, mas recursos limitados, como você passaria os seus dias?

3 comentários:

  1. eu viveria assim facinho, facinho... numa ilha deserta!

    ResponderExcluir
  2. Mas será que encontrar uma ilha para se viver frugalmente é tão difícil assim?
    O que complica mesmo é o "deserta". Já imaginou o isolamento?

    ResponderExcluir
  3. o isolamento é tudo o que eu sei sobre a minha vida, caro herdeiro.

    ResponderExcluir